Henfil: Muita história para tão pouco tempo


Tempo de leitura: 4 minutos

Oi turma!!
Tudo legal?
Pois.. Para aqueles que, como eu, gostam de conhecer a história do Brasil e de não deixar que certas coisas sejam esquecidas, como, por exemplo, coisas que aconteceram entre 20 anos e 5 presidentes, se é que sabem do que eu to falando, hoje trago mais um texto de Rosani Martins sobre uma das personalidades mais importantes na luta contra a ditadura, além de, naturalmente, um dos maiores cartunistas do Brasil (além de jornalista, escritor, e outras coisas que vocês verão abaixo). Ele lutou contra a ditadura de uma forma muito sutil e inteligente, dando, realmente, muito trabalho para os “defensores da ordem nacional”.. Em 1972, por exemplo, a cantora Elis Regina fez uma apresentação para o exército brasileiro e Henfil, em uma das suas charges, “Enterrou-a”, apelidando-a de “regente”, junto a outros que, segundo ele, agradavam ao regime. Bom, mas chega de comentar, vamos ao texto e deixo o resto para vocês:

Henfil: Muita história para tão pouco tempo


Henrique de Souza Filho era um brasileiro que poderia ser definido como uma personificação da identidade brasileira. Inteligente, criativo, ousado e de um bom humor intraduzível, sabia fazer graça até com a desgraça. Antenado e pelo menos uns vinte anos à frente de seu tempo, tinha uma capacidade de antecipar fatos e comportamentos que surpreendia. Por tudo que representa para a cultura brasileira, Henfil dispensaria apresentações, mas pela lamentável tradição de nosso país em esquecer personagens importantes de nossa história, se faz necessário apresentar ao leitor mais jovem este brasileiro.

Henfil foi um dos maiores cartunistas desse país, atuou como jornalista, quadrinista e escritor. As contribuições desse mineiro de Ribeirão das Neves podem ser encontradas em revistas como: Alterosa, Realidade, Placar e O Cruzeiro. Entre os jornais para os quais colaborou estão: Diário de Minas, Jornal dos Sportes, Jornal do Brasil e O Pasquim. Henfil criou personagens que ficaram famosos. Como não dá para falar de todos, nem para analisá-los com a atenção que merecem, o melhor é escolher aquele que mais representa o senso crítico e a preocupação de Henfil com a realidade brasileira. Para isso, ninguém melhor que a Graúna, uma ave pretinha, magricela, atrevida e que fala tudo que lhe vem à cabeça. Ela retrata a miséria nordestina, o preconceito e o desejo de mudar essa realidade. Henfil era um ferrenho opositor do Regime Militar, o qual combateu com muita criatividade, sutileza e inteligência. Entre os livros que escreveu, merecem destaque Diário de Um Cucaracha, obra em que fala sobre o choque cultural e toda a discriminação que sofreu quando tentou conseguir espaço para trabalhar nos Estados Unidos e as famosas Cartas à Mãe. Nessas cartas, o escritor se dirige realmente à mãe, atira para todos os lados, faz críticas ao regime ditatorial e cobra posições de personalidades brasileiras. Henfil também teve passagem pelo cinema com a criação do filme Deu no New York Times, obra em que faz críticas aos fatos que a imprensa inventa para que sejam aceitos como verdades pelos espectadores.

Por essa breve apresentação, dá para se ter uma idéia de quem foi e do que Henfil representa para a história desse país. Triste é constatar que esse corajoso brasileiro poderá cair no esquecimento. Dentro das instituições de ensino superior, Por exemplo, Henfil não é lembrado e, por conta disso, cursos como o de Comunicação Social e outros deixam de dar às novas gerações a oportunidade de conhecer o trabalho, o senso crítico e a competência de um personagem muito importante para história desse país. Por que motivos será que a obra e o legado desse brasileiro não encontram espaço no Curso de Comunicação Social? Desde que ingressam na faculdade, os estudantes dessa área aprendem que devem ser críticos, antenados e criativos, mas ninguém se ocupa e se dedica a mostrar exemplos tão importantes como esse personagem de nossa história para aguçar a sensibilidade e o humor desses futuros profissionais. Henfil morreu há vinte e um anos e hoje quase ninguém sabe nada sobre ele. Até o motivo que antecipou a morte do cartunista, pouco a pouco, está caindo no esquecimento.

Henfil, como os irmãos Hebert de Souza ( o sociólogo Betinho) e Chico Mário (músico), era hemofílico. Os três foram contaminados com o vírus HIV em transfusões de sangue. Eles não foram as únicas vítimas da falta de uma política de saúde para as questões ligadas ao sangue humano que marca o passado desse país, mas são exemplos que, por se tratarem de pessoas com visibilidade na mídia, acabaram por contribuir para a mudança dessa realidade. No cenário atual, os cuidados com o sangue são feitos com muita responsabilidade, mas o descaso de um passado muito recente custou prejuízos muito grandes para a nossa história. Henfil, como os irmãos, morreu devido às complicações provocadas pela AIDS. Viveu apenas quarenta e três anos e deixou uma vasta contribuição cultural para contar de forma muito bem humorada a história do contexto em que viveu. Sempre às voltas com os problemas ocasionados pela hemofilia e agravados pela contaminação, Henfil tirava forças de sua própria fragilidade para enfrentar o Regime Militar. Talvez esteja aí uma possível explicação para que o regime de exceção não tenha calado a voz desse brasileiro. Henfil era doente, poderia não resistir a uma “correção” e, provavelmente, morreria logo. Os ditos defensores da ordem nacional pensavam assim e, enquanto esperavam pela morte natural de Henfil, acabaram por permitir que as críticas continuassem, sem falar naquelas que nem eram entendidas pelo regime.

Quando Henfil morreu, em 1988, o Regime Militar já havia acabado e as eleições diretas para Presidente da República estavam marcadas para o ano seguinte. Por ironia do destino, uma das maiores expressões do movimento “Diretas Já” (1984) não assistiu ao resultado de uma de suas maiores lutas. Essa só não pode ser considerada a maior luta de Henfil porque a grande luta dele foi contra a morte, que o ameaçava sempre. Henfil costumava dizer “Viver é uma tarefa urgente.” e isso, ele soube fazer. Em uma curta trajetória, deixou um grande legado. Cabe aos que sabem de sua importância contar essa história.

Rosani Martins

E, só pra terminar, não se esqueçam de dar seus “pitaquinhos” nos comentários…
Abração
Fernando

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