Leite por voto


Tempo de leitura: 3 minutos

Oi turma!!

Pois.. Quem não sente saudades dos textos do Pedro Cardoso da Costa
nessa coisa aqui? Pois.. foi culpa minha que eles não apareceram mais:
Eu sumi, e eles sumiram também, mas cá estamos nós (Eu e os textos) de
volta.. E o texto que hoje trago o título já diz tudo, vou deixar que
vocês, nos comentários, se divirtam e eu respondo…


Leite por voto

Não resta dúvida de que a sociedade brasileira está saturada já há muito
tempo desse modelo de campanhas eleitorais de promessas vazias, de mundos e
fundos, que todos sabem que não serão cumpridas e que todos esquecem
rapidamente. Mas existe um vício de dupla mão: se o candidato não promete e
mostra projetos realizáveis apenas, não será eleito, se faz as promessas
mirabolantes sabendo que não cumprirá. Já o eleitor vota nos gurus para,
depois de consolidados nos postos, alegar que fora enganado pelas
promessas.

Se não me falha a memória de cidadão, a atual presidenta da República
prometeu a construção de dois milhões de moradias no seu mandato. No fim
desse ano já transcorreu metade dele e não se tem notícia se um milhão já
foi entregue. Em sã consciência, quem votou com base nessa promessa, não se
deu conta da sua inviabilidade porque não quis.

Apesar de o histórico ser antigo entre o “tudo que será feito” e o quase
nada realizado, o eleitor continua com esse fingimento de se fazer enganar.
Antes, as críticas eram atribuídas às compras diretas em rincões do Brasil.
Algumas condutas tornaram-se clichês que hoje se virariam verdadeiros memes
na internet. O mais destacado seria a tal da dentadura em duas metades, uma
antes e outra depois da eleição. O par de sapatos entregue nas mesmas
condições seria outro, pé direito para garantia, pé esquerdo depois de
confirmado o voto.

Existe um inconsciente coletivo em todo o país de que somos uns pobres
coitados, vítimas eternas dos políticos, gestores, e até dos pretendentes a
esses cargos. Compra e venda de votos todos têm um conhecimento empírico
dessa prática. Como tudo que é ilegal, ninguém passa recibo, e quando
entrega não vem com a indicação da mercadoria correta. Negócios de compra
e venda no andar de cima são mais velados, porém de resultados mais
concretos. Nos meios políticos, essa negociação recebe o nome de apoio, de
base aliada, de governabilidade. É aceita como legal e legitimamente por
todos.

Não resta dúvida de que as pessoas precisam se apresentar ao público em
geral, nem todos são conhecidos o suficiente para se eleger a algum cargo.
Mas o modelo de campanhas está por demais saturado. A maioria defende
causas genéricas e redundantes, porque ninguém em sã consciência seria
contra, mas poucos têm alguma ideia inovadora. Sou João da Silva lutarei
pela “pela educação de qualidade”; sou Zé da Perua, defenderei as causas
dos perueiros. Assim se dissemina a cultura de falar bobagens com base na
nas pesquisas de que elas alcançam público e votos. Poderiam ao menos
colocar alguma informação de interesse geral nos baners, nas bandeirolas,
nos pronunciamentos no rádio e na televisão. Reforçar a necessidade do
exame de toque, da consulta ginecológica, aos pais para levarem as crianças
ao dentista, além de tantas outras.

Como os exageros estão presentes em todas as ações humanas, algumas
campanhas são recheadas de abusos linguísticos, do poder econômico e
algumas chegam ao cometimento de eventuais crimes, amparadas sempre no
binômio necessidade do eleitor e poder econômico do candidato. Meu amigo
Glauco Rodrigues da Conceição, morador de Caieiras, Grande São Paulo, tem
especial aversão às campanhas eleitorais envoltas na exploração de crianças
e repassa toda notícia de que tenha conhecimento. As mais recentes foram
comentários de moradores da vizinha Franco da Rocha de que o atual vice e
candidato a prefeito estaria se utilizando de um programa de entrega de
leite para angariar votos, conduta semelhante à ocorrida na capital, onde
santinhos de candidatos teriam sido entregues junto às caixas de leite em
pó.

Certo mesmo é que as campanhas nesse padrão existem pela mesma razão que as
baixarias na televisão: muita gente aceita e dá retorno. Assim como só o
traficante é execrado – eles são crias dos usuários, também só existe o
explorador e comprador de voto porque tem uma vasta clientela faminta de
benesses e favores. Apesar desse argumento para pôr pingo nos is, estou
com o Glauco, porque isso não retira a legitimidade do combate permanente.
Da mesma maneira que se combate a morte mesmo com a certeza da derrota.

Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP


Um abraço!

Fernando

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