Postura, discriminação e informação: Onde estão as mudanças que os tempos trouxeram?


Tempo de leitura: 3 minutos

Oi turma!
É curioso… Historinhas como essa que relato hoje já aconteceram com diversos amigos meus, mas a gente pensa que com o tempo, a informação e as leis, as coisas mudam.. Mas que nada!
Bom, vamos começar do começo, relatando o fato, e deixar os comentários e as “comparações” para depois:
Foi hoje pela manhã que o fato se deu: Fui num dentista, fazer uma revisão de rotina, acompanhado pela minha mãe. Não sei se por costume ou o que, mas normalmente que ando com ela (ou com alguém que enxerga), não uso a bengala, e quando ando com a mãe nem fico com a bengala aberta na mão. Então: Cheguei no consultório do dentista e já estava na minha hora: Tive de entrar correndo prà consulta, e, quando estava entrando minha mãe disse: Vou ali acertar o estacionamento e já volto. Pois..
Cumprimentei o dentista e ele perguntou para minha mãe qual era o motivo pelo qual eu estava lá. Minha mãe disse que eu explicaria e ela iria sair e ele, com aquela voz de quase desespero, disse: “Não, mas acho que a senhora tem que ficar junto!”… Dessa vez, claro, fui eu que respondi educadamente: Não, não se faz necessário. Despedi a minha mãe e quando ele perguntou novamente por que eu estava lá, respondi que era uma consulta somente de rotina. No decorrer da consulta ele, de início, ainda me tratou diferente, mas claro que eu corrigi isso através de diálogos no qual a própria postura da gente mostra nossa verdadeira condição. A partir de então ele me tratou como um igual, claro. Mas, no meio da consulta, eu que já aprendi a não deixar pra depois o que incomoda, perguntei diretamente por que ele havia falado com minha mãe e não diretamente comigo… A resposta foi que não havia ficado claro, quando ele me viu, qual a deficiência que eu tinha. Agora eu pergunto: Deficiência tem cara? Jamais ouvi uma desculpa tão inteligente e bem colocada.. Claro que, na hora, eu não discuti com ele por que seria improdutivo, mas parando pra pensar não pude deixar de trazer essa experiência pra cá.
Naturalmente que reconheço a minha parte da culpa: eu tava andando segurando no braço da minha mãe e sem bengala. Contudo minha deficiência visual é evidente e se ele foi capaz de notar que eu tinha uma deficiência, como não se deu conta que era visual então? Ademais, se eu tivesse algum tipo de deficiência mental que não pudesse ficar sozinho, minha mãe naturalmente não me deixaria sozinho, não é?
A questão é: Hoje temos comunicação, informação, leis e também diversos deficientes visuais inseridos no mercado de trabalho. Curiosamente, e isso eu já mencionei de relance no início do artigo, tenho de fazer um comparativo aqui: Eu moro em Pelotas, que é uma cidade do interior… Ta certo que moro sozinho lá e isso muda um pouco a realidade, mas.. Lá, que é uma cidade do interior, eu não me lembro de ter acontecido esse tipo de coisa comigo! Nunca fui tratado de forma diferente; Sempre como um adulto, em fim, como igual. Aqui, em Novo Hamburgo e São Leopoldo, que são cidades próximas da capital e supostamente com mais acesso à informação e tudo o mais, essa não foi a primeira e nem vai ser a última vez que esse tipo de coisa vai acontecer… E eu pergunto: Onde está o principal fator que leva as pessoas a fazerem esse tipo de coisa? Não pode estar na falta de informação, nem tão pouco na minha postura cujo problema foi somente a ausência da bengala… Onde então?
Fica a pergunta para aqueles que quiserem dialogar através dos comentários dessa coisa aqui. Mas parece que, em alguns aspectos, pelo menos pela minha experiência, algumas cidades do interior estão bem mais informadas e preparadas que as capitais ou cidades próximas..
Era isso.. Um abraço e aguardo os comments!
Fernando

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5 respostas para “Postura, discriminação e informação: Onde estão as mudanças que os tempos trouxeram?”

  1. Fernando.

    Acredito que existem duas coisas completamente diferentes.

    A disponibilidade da informação e a vontade das pessoas em querer absorvê-la.

    Acho que aí está o fator causal dessas situações.

    Geraldo Magela já mostrou várias vezes em seus quadros de humor que, ao guiar um cego, deve-se deixar que o mesmo segure no braço da pessoa.

    Ele já participou de programas com muita audiência. Escolinha Do Barulho, A Praça É Nossa, em fim:

    creio ser raro encontrar alguém que nunca tenha visto essa orientação dele. Mesmo assim, não obstante, encontramos pessoas na rua, teimando em nos puxar pelo braço acreditando ajudar.

    Então, onde está o fator?

    As informações são passadas, mas não há garantia de absorção.

    Fui a Pelotas no ano passado e também, em nenhum momento me aconteceu algo do gênero.

    Isso foi até uma das coisas elogiadas em meu blog. O fato de, mesmo aquelas pessoas as quais nunca tiveram contato com cego, não sabendo por conseguinte como agir, terem a vontade de aprender e atenderem da melhor forma possível. Seja em bares, restaurantes, etc.

    • Oi cara!!

      Mas acho que o ponto que “toca” aqui é justamente a questão da absorção
      da informação.. A informação existe e está aí para quem quer, contudo a
      falta de interesse também existe, infelizmente… Mas, conforme
      comentei, pela minha experiência isso costuma acontecer justamente nas
      cidades grandes e capitais, e, no interior, menos..

      Vou indicar seu blog aqui e colocar na lista de links também, não sabia
      dele.. E achei bem legal!

      Abração..

      Fernando

  2. Caríssimo Fernando,
    Sou profissional dentário com especialização em ortodontia e, em uma pesquisa no Google, curiosamente encontrei o seu blog, que nada tinha a ver com o assunto o qual eu pesquisava, mas que trouxe uma reflexão interessante.
    Já atendi a algumas pessoas portadoras de necessidades especiais e nunca tive dificuldades para identificar quais eram as respectivas deficiências.
    Todavia, chamou-me a atenção uma afirmação referente ao fato de deficientes mentais não poderem permanecer sozinhos em algum lugar. Discordo veementemente desta afirmativa. A deficiência mental tem graus e individualidades tais que não impossibilitam que os portadores desta deficiência permaneçam sozinhos.
    As únicas pessoas que, penso eu, não podem ser deixadas sozinhas em algum ambiente são os deficientes visuais. Por não verem tal ambiente e principalmente se não conhecê-lo tão bem quanto suas casas, o movimento é prejudicado e podem se acidentar.
    As outras deficiências todas não requerem um cuidado tão dedicado quanto parece.
    Atenciosamente.

    • Olá!
      Em primeiro lugar, obrigado pelo seu comentário!
      Na realidade, a deficiência não pode ser único quesito a justificar o
      fato da pessoa não poder ficar sozinha. Como você mesmo disse, mesmo no
      caso de deficiências mentais, existem vários graus. Ademais, dizer que
      não conseguiu “identificar” a deficiência foi a desculpa mais
      esfarrapada que já ouvi. Mencionei a questão da deficiência mental não
      só pelo fato da pessoa não poder ficar sozinha e sim por não entender (E
      até se assustar) com alguns dos procedimentos envolvidos em uma consulta
      dentária, atrapalhando, com isso, o procedimento e mesmo o entrosamento
      proficional/paciente. Foi isso que quis dizer com o fato da pessoa
      deficiente mental talvez ter que ficar acompanhada. Quanto ào cego, o
      fato de não conhecer o ambiente também não justifica, visto que a
      própria pessoa que te atende, se necessário, pode te guiar.

      Um abraço

      Fernando

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